COMUNICABILIDADE DOS ESPÍRITOS
- svdee1
- 7 de out.
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Atualizado: 18 de out.
ENTENDIMENTOS
Fenômenos alheios às leis da ciência humana se dão por toda parte, revelando na causa que os produz a ação de uma vontade livre e inteligente.
A razão diz que um efeito inteligente há de ter como causa uma força inteligente e os fatos provam que essa força é capaz de entrar em comunicação com os homens por meio de sinais materiais.
Interrogada acerca da sua natureza, essa força se autodenominou “Espírito” ou “Gênio” e declarou pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram do invólucro corporal do homem. Assim é que foi revelada a Doutrina dos Espíritos. (2)(20)(21)(22)
Os Espíritos se comunicam espontaneamente ou quando evocados. (1)
Podem se comunicar pela visão, audição e tato. (3)
O tipo de Espírito que responderá a uma evocação depende da natureza moral do meio que o evoca. Nas reuniões sérias, onde predomina o desejo sincero de aprendizado e o amor do bem, manifestam-se os Espíritos Superiores, que afastam os inferiores; estes últimos têm livre acesso e plena liberdade de ação entre as pessoas frívolas que são impelidas somente por curiosidade ou maus instintos, trazendo futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, mistificações (Muitas vezes tomam nomes famosos pra enganar). (4)
Distinguir os bons dos maus Espíritos é fácil. Via de regra, os Espíritos superiores usam linguagem digna, nobre, da mais alta moralidade, livre de qualquer paixão inferior, com a mais pura sabedoria nos conselhos (que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade). A linguagem dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconseqüente, quase sempre trivial e até grosseira; às vezes podem dizer alguma coisa boa e verdadeira, mas, dizem muito mais falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância; zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falsas esperanças. Resumindo, as comunicações sérias só são dadas nos centros sérios, onde reine íntima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem. (5)
Quem quiser instruir-se com os Espíritos tem que fazer um curso com eles; mas, deverá escolher seus professores e trabalhar com assiduidade. (6)
Os próprios Espíritos nos ensinam não haver entre eles igualdade de conhecimentos nem de qualidades morais, e que não se deve tomar ao pé da letra tudo quanto dizem. (7)
Há quem deduza que só se comunicam seres malfazejos, apenas com o objetivo da mistificação, desconhecendo as comunicações dos Espíritos superiores. É de lamentar que apenas lhes tenha sido mostrado o lado mau do mundo espírita. Isso ocorre ou porque uma tendência simpática atrai para eles, em vez dos bons Espíritos, os maus, os mentirosos, ou aqueles cuja linguagem é de revoltante grosseria; ou porque a solidez dos princípios dessas pessoas não é bastante forte para preservá-las do mal. Divertindo-se em lhes satisfazerem a curiosidade, os maus Espíritos disso se aproveitam para se aproximar delas, enquanto os bons se afastam. (8)
Outros crêem que o próprio diabo interviria nas comunicações espíritas e em todos os fatos materiais a que elas dão lugar, revestindo-se de todas as formas, para melhor nos enganar. Se assim fosse, forçoso seria convir em que o diabo é às vezes bastante criterioso e ponderado, sobretudo muito moral; ou, então, em que também há bons diabos. (9)
Admitir a comunicação dos maus Espíritos é reconhecer o princípio das manifestações. (10)
Espíritos de personagens conhecidas manifestam-se bastante, mas, dentre os Espíritos que vêm espontaneamente, é muito maior o número dos desconhecidos com um nome qualquer ou alegórico, característico, do que o dos ilustres. Quanto aos evocados, é muito natural que não sendo parente ou amigo, nos dirijamos aos que conhecemos ao invés dos que nos são desconhecidos. O nome das personagens ilustres atrai mais a atenção, por isso é que são notadas. (11)
Nota-se diferenças de linguagem entre os Espíritos.
Como os Espíritos diferem uns dos outros em conhecimento e moralidade, uma mesma questão pode ser respondida de maneiras distintas e até mesmo opostas, conforme a categoria do Espírito que responde, da mesma maneira que ocorreria se perguntássemos a um sábio, a um ignorante ou a um gracejador encarnados. É essencial sabermos a quem nos dirigimos. (12)
Há quem pergunte por que os Espíritos ditos superiores nem sempre estão de acordo.
Entenderemos através do estudo (Que requer muita atenção, observação profunda, continuidade e perseverança.) que nem tudo o que parece contraditório de fato o é. A forma da resposta depende muitas vezes da forma da questão. Frequentemente só há diferença de palavras. Os Espíritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo; a forma nada vale.
O estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. (13)
A ortografia dos Espíritos nem sempre é correta, o que é objeto de crítica de muitos que pensam que os Espíritos sabem tudo e deveriam saber também a ortografia. Entretanto, há muitos pecados desse gênero cometidos por mais de um sábio da Terra, o que, no entanto, em nada lhes diminui o mérito. Já é maravilhoso que os Espíritos se exprimam em todas as línguas e que as entendam todas.
Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento; são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário. Por isso, eles sentem-se muito pouco à vontade ao se comunicarem conosco, por precisarem utilizar as formas longas e embaraçosas da linguagem humana e lutar com a insuficiência e a imperfeição dessa linguagem para exprimirem todas as ideias. É o que eles próprios declaram. O mesmo se daria conosco, se tivéssemos de exprimir-nos num idioma de vocábulos e fraseados mais longos e de maior pobreza de expressões do que o nosso. É o embaraço que experimenta o homem de gênio; impacienta-o a lentidão da sua pena sempre muito atrasada em lhe acompanhar o pensamento.
Compreende-se, assim, que não desconhecem a forma correta da linguagem; somente dão pouca importância à puerilidade da ortografia, principalmente quando se trata de ensino profundo e grave. Quando necessário, o idioma é usado perfeitamente. Assim é, por exemplo, a poesia ditada por eles, que passaria pela crítica do mais meticuloso purista, a despeito da ignorância do médium. (14)
Várias pessoas desistem do suicídio graças às comunicações dos Espíritos que informam a sorte dos que voluntariamente abreviam seus dias. (15)
Há quem admita a realidade de todos os fenômenos materiais e morais, mas exclua a intervenção dos Espíritos.
Em uma das teorias nesse sentido, todas as manifestações atribuídas aos Espíritos não seriam mais do que efeitos magnéticos, produzidos pelos médiuns num estado a que se poderia chamar sonambulismo desperto. Nesse estado, as faculdades intelectuais adquirem um desenvolvimento anormal; o círculo das operações intuitivas se amplia para além das raias da nossa concepção ordinária. Assim sendo, o médium tiraria de si mesmo e por efeito da sua lucidez tudo o que diz e todas as noções que transmite, mesmo que desconheça esses assuntos quando no seu estado habitual.
Muitas manifestações espíritas são explicáveis por esse meio. Contudo, uma observação cuidadosa e prolongada mostra grande número de fatos em que a intervenção do médium, a não ser como instrumento passivo, é materialmente impossível. Basta ver e observar. De onde veio a teoria espírita? É um sistema imaginado por alguns homens para explicar os fatos? De modo algum. Quem então a revelou? Esses mesmos médiuns cuja lucidez é apontada. Ora, se essa lucidez é tal como a supõem, por que teriam eles atribuído aos Espíritos o que em si mesmos hauriam? Como teriam dado, sobre a natureza dessas inteligências extra-humanas, as informações precisas, lógicas e tão sublimes, que conhecemos?
Ou eles são lúcidos, ou não o são. Se o são e se se pode confiar na sua veracidade, não haveria meio de admitir-se, sem contradição, que não estejam com a verdade. Em segundo lugar, se todos os fenômenos promanassem do médium, seriam sempre idênticos num determinado indivíduo. Porém, a diversidade de manifestações, em conteúdo e linguagem, obtidas pelo mesmo médium prova a diversidade das fontes. E, se não as podemos encontrar todas nele, é porque emanam de outro ser. (16)
Segundo outra opinião, o médium é a única fonte produtora de todas as manifestações; mas, em vez de extraí-las de si mesmo, ele as toma do meio ambiente. O médium captaria todas as ideias, todos os pensamentos e todos os conhecimentos das pessoas que o cercam; nada diria que não fosse conhecido, pelo menos, de algumas destas. Embora constitua um princípio da doutrina a influência que os assistentes exercem sobre a natureza das manifestações, esta influência, no entanto, difere muito da que supõem existir, porquanto milhares de fatos desmentem o médium como mero eco do ambiente. Sendo-lhes impossível negar a realidade de um fenômeno que a ciência vulgar não pode explicar e não querendo admitir a presença dos Espíritos, os que assim opinam o explicam a seu modo.
Certas comunicações do médium são completamente estranhas aos pensamentos, aos conhecimentos, às opiniões mesmo de todos os assistentes; espontaneamente contradizem todas as ideias preconcebidas.
Então, esses contraditores respondem que a irradiação vai muito além do círculo imediato que nos envolve; o médium é o reflexo de toda a Humanidade; se as inspirações não lhe vêm dos que se acham a seu lado, ele as vai beber fora, na cidade, no país, em todo o globo e até nas outras esferas.
Pois a suposição dessa irradiação universal, vindo, de todos os pontos do Universo, concentrar-se no cérebro de um indivíduo é muito mais mirabolante do que a da simples existência de Espíritos que se comunicam conosco.
A diferença principal: A teoria sonambúlica e a que se poderia chamar refletiva foram imaginadas por alguns homens; são opiniões individuais, criadas para explicar um fato. A Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana; foi ditada pelas próprias inteligências que se manifestam, quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia.
Daí, pergunta-se: Onde os médiuns foram obter uma doutrina que não passava pelo pensamento de ninguém na Terra? Por que estranha coincidência milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo, e que jamais se viram, disseram a mesma coisa? Se o primeiro médium que apareceu na França sofreu a influência de opiniões já aceitas na América, por que ele foi buscá-las tão longe, em um povo tão diferente em costumes e linguagem, em vez de as tomar no seu entorno? (17)
As primeiras manifestações, na França, como na América, não se deram por meio da escrita nem da palavra e, sim, por pancadas. Foi por esse meio que as inteligências, autoras das manifestações, se declararam Espíritos. Se admite-se que há intervenção do pensamento dos médiuns nas comunicações verbais ou escritas, o mesmo não se pode fazer com relação às pancadas, cuja significação não podia ser conhecida de antemão.
Há inúmeros fatos que demonstram, na inteligência que se manifesta, uma individualidade evidente e uma absoluta independência de vontade.
Por que é que a inteligência que se manifesta recusa responder a certas perguntas sobre assuntos perfeitamente conhecidos, como, por exemplo, sobre o nome ou a idade do interlocutor, sobre o que ele tem na mão, o que fez na véspera, o que pensa fazer no dia seguinte, etc.? Se o médium fosse o espelho do pensamento dos assistentes, nada lhe seria mais fácil do que responder.
Porque os Espíritos são superiores é que não respondem a questões ociosas ou ridículas e que se calam ou declaram que só se ocupam com coisas sérias.(18)
Os Espíritos vêm e vão-se, não havendo pedidos nem súplicas que os façam voltar. Se o médium trabalhasse somente pela impulsão mental dos assistentes, o concurso de todas as vontades reunidas haveria de estimular-lhe a clarividência. Mas os Espíritos não cedem ao desejo da assembleia em vez da vontade deles; o médium obedece a uma influência que lhe é estranha e aos que o cercam, atestando a independência e a individualidade dos comunicantes. (19)
FONTES
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita VI"
(1) Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.
(2) Conforme notamos acima, os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos ou Gênios, declarando, alguns, pelo menos, terem pertencido a homens que viveram na Terra.
(3) “O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certo casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato.
(4) “Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.
(5) “Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconseqüente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde reine íntima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita VIII"
(6) ...O mesmo ocorre em nossas relações com os Espíritos. Quem quiser com eles instruir-se tem que com eles fazer um curso; mas, exatamente como se procede entre nós, deverá escolher seus professores e trabalhar com assiduidade.
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita X"
(7) Quem se reportar ao resumo da doutrina acima apresentado, verá que os próprios Espíritos nos ensinam não haver entre eles igualdade de conhecimentos nem de qualidades morais, e que não se deve tomar ao pé da letra tudo quanto dizem. Às pessoas sensatas incumbe separar o bom do mau.
(8) Indubitavelmente, os que desse fato deduzem que só se comunicam conosco seres malfazejos, cuja única ocupação consista em nos mistificar, não conhecem as comunicações que se recebem nas reuniões onde só se manifestam Espíritos superiores; do contrário, assim não pensariam. É de lamentar que o acaso os tenha servido tão mal, que apenas lhes haja mostrado o lado mau do mundo espírita, pois nos repugna supor que uma tendência simpática atraia para eles, em vez dos bons Espíritos, os maus, os mentirosos, ou aqueles cuja linguagem é de revoltante grosseria. Poder-se-ia, quando muito, deduzir daí que a solidez dos princípios dessas pessoas não é bastante forte para preservá-las do mal e que; achando certo prazer em lhes satisfazerem a curiosidade, os maus Espíritos disso se aproveitam para se aproximar delas, enquanto os bons se afastam.
(9) Como variante dessa opinião, temos a dos que não vêem, nas comunicações espíritas e em todos os fatos materiais a que elas dão lugar, mais do que a intervenção de uma potência diabólica, novo Proteu que revestiria todas as formas, para melhor nos enganar. Não a julgamos suscetível de exame sério, por isso não nos demoramos em considerá-la. Aliás, ela está refutada pelo que acabamos de dizer. Acrescentaremos, tão-somente, que, se assim fosse, forçoso seria convir em que o diabo é às vezes bastante criterioso e ponderado, sobretudo muito moral; ou, então, em que também há bons diabos.
(10) Note-se que admitir a comunicação dos maus Espíritos é reconhecer o princípio das manifestações.
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita XI"
(11) Esquisito é, acrescentam, que só se fale dos Espíritos de personagens conhecidas e perguntam por que são eles os únicos a se manifestarem. Há ainda aqui um erro, oriundo, como tantos outros, de superficial observação. Dentre os Espíritos que vêm espontaneamente, muito maior é, para nós, o número dos desconhecidos do que o dos ilustres, designando-se aqueles por um nome qualquer, muitas vezes por um nome alegórico ou característico. Quanto aos que se evocam, desde que não se trate de parente ou amigo, é muito natural nos dirijamos aos que conhecemos, de preferência a chamar pelos que nos são desconhecidos. O nome das personagens ilustres atrai mais a atenção, por isso é que são notadas.
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita XIII"
(12) As observações que aí ficam nos levam a dizer alguma coisa acerca de outra dificuldade, da divergência que se nota na linguagem dos Espíritos.
Diferindo estes muito uns dos outros, do ponto de vista dos conhecimentos e da moralidade, é evidente que uma questão pode ser por eles resolvida em sentidos opostos, conforme a categoria que ocupam, exatamente como sucederia, entre os homens, se a propusessem ora a um sábio, ora a um ignorante, ora a um gracejador de mau gosto. O ponto essencial, temo-lo dito, é sabermos a quem nos dirigimos.
(13) Mas, ponderam, como se explica que os tidos por Espíritos de ordem superior nem sempre estejam de acordo?
Diremos, em primeiro lugar, que, independentemente da causa que vimos de assinalar, outras há de molde a exercerem certa influência sobre a natureza das respostas, abstração feita da probidade dos Espíritos. Este é um ponto capital, cuja explicação alcançaremos pelo estudo. Por isso é que dizemos que estes estudos requerem atenção demorada, observação profunda e, sobretudo, como aliás o exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança.
Anos são precisos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós. Será de admirar que o efetuá-lo demande tempo, muito tempo mesmo?
A contradição, demais, nem sempre é tão real quanto possa parecer. Não vemos todos os dias homens que professam a mesma ciência divergirem na definição que dão de uma coisa, quer empreguem termos diferentes, quer a encarem de pontos de vista diversos, embora seja sempre a mesma a idéia fundamental? Conte quem puder as definições que se têm dado de gramática! Acrescentaremos que a forma da resposta depende muitas vezes da forma da questão.
Pueril, portanto, seria apontar contradição onde frequentemente só há diferença de palavras. Os Espíritos superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo.
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita XIV"
(14) Passaríamos de longe pela objeção que fazem alguns cépticos, a propósito das faltas ortográficas que certos Espíritos cometem, se ela não oferecesse margem a uma observação essencial. A ortografia deles, cumpre dizê-lo, nem sempre é irreprochável; mas, grande escassez de razões seria mister para se fazer disso objeto de crítica séria, dizendo que, visto saberem tudo, os Espíritos devem saber ortografia. Poderíamos opor-lhes os múltiplos pecados desse gênero cometidos por mais de um sábio da Terra, o que, entretanto, em nada lhes diminui o mérito. Há, porém, no fato, uma questão mais grave. Para os Espíritos, principalmente para os Espíritos superiores, a idéia é tudo, a forma nada vale. Livres da matéria, a linguagem de que usam entre si é rápida como o pensamento, porquanto são os próprios pensamentos que se comunicam sem intermediário.
Muito pouco à vontade hão de eles se sentirem, quando obrigados, para se comunicarem conosco, a utilizarem-se das formas longas e embaraçosas da linguagem humana e a lutarem com a insuficiência e a imperfeição dessa linguagem, para exprimirem todas as idéias. É o que eles próprios declaram. Por isso mesmo, bastante curiosos são os meios de que se servem com freqüência para obviarem a esse inconveniente. O mesmo se daria conosco, se houvéssemos de exprimir-nos num idioma de vocábulos e fraseados mais longos e de maior pobreza de expressões do que o de que usamos. É o embaraço que experimenta o homem de gênio, para quem constitui motivo de impaciência a lentidão da sua pena sempre muito atrasada no lhe acompanhar o pensamento. Compreende-se, diante disto, que os Espíritos liguem pouca importância à puerilidade da ortografia, mormente quando se trata de ensino profundo e grave. Já não é maravilhoso que se exprimam indiferentemente em todas as línguas e que as entendam todas? Não se conclua daí, todavia, que desconheçam a correção convencional da linguagem. Observam-na, quando necessário. Assim é, por exemplo, que a poesia por eles ditada desafiaria quase sempre a crítica do mais meticuloso purista, a despeito da ignorância do médium.
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita XV"
(15) Conhece também, pelo espetáculo que as comunicações com os Espíritos lhe proporcionam, qual a sorte dos que voluntariamente abreviam seus dias e esse quadro é bem de molde a fazê-lo refletir, tanto que a cifra muito considerável já ascende o número dos que foram detidos em meio desse declive funesto. Este é um dos resultados do Espiritismo. Riam quanto queiram os incrédulos. Desejo-lhes as consolações que ele prodigaliza a todos os que se hão dado ao trabalho de lhe sondar as misteriosas profundezas.
Livro dos Espíritos, Introdução, "Ao Estudo da Doutrina Espírita XVI"
(16) Resta-nos ainda examinar duas objeções, únicas que realmente merecem este nome, porque se baseiam em teorias racionais. Ambas admitem a realidade de todos os fenômenos materiais e morais, mas excluem a intervenção dos Espíritos.
Segundo a primeira dessas teorias, todas as manifestações atribuídas aos Espíritos não seriam mais do que efeitos magnéticos. Os médiuns se achariam num estado a que se poderia chamar sonambulismo desperto, fenômeno de que podem dar testemunho todos os que hão estudado o magnetismo. Nesse estado, as faculdades intelectuais adquirem um desenvolvimento anormal; o círculo das operações intuitivas se amplia para além das raias da nossa concepção ordinária. Assim sendo, o médium tiraria de si mesmo e por efeito da sua lucidez tudo o que diz e todas as noções que transmite, mesmo sobre os assuntos que mais estranhos lhe sejam, quando no estado habitual.
Não seremos nós quem conteste o poder do sonambulismo, cujos prodígios observamos, estudando-lhe todas as fases durante mais de trinta e cinco anos. Concordamos em que, efetivamente, muitas manifestações espíritas são explicáveis por esse meio. Contudo, uma observação cuidadosa e prolongada mostra grande cópia de fatos em que a intervenção do médium, a não ser como instrumento passivo, é materialmente impossível. Aos que partilham dessa opinião, como aos outros, diremos: “Vede e observai, porque certamente ainda não vistes tudo.” Opor-lhes-emos, em seguida, duas considerações tiradas da própria doutrina deles. Donde veio a teoria espírita? É um sistema imaginado por alguns homens para explicar os fatos? De modo algum. Quem então a revelou? Precisamente esses mesmos médiuns cuja lucidez exaltais. Ora, se essa lucidez é tal como a supondes, por que teriam eles atribuído aos Espíritos o que em si mesmos hauriam? Como teriam dado, sobre a natureza dessas inteligências extra-humanas, as informações precisas, lógicas e tão sublimes, que conhecemos?
Uma de duas: ou eles são lúcidos, ou não o são. Se o são e se se pode confiar na sua veracidade, não haveria meio de admitir-se, sem contradição, que não estejam com a verdade. Em segundo lugar, se todos os fenômenos promanassem do médium, seriam sempre idênticos num determinado indivíduo; jamais se veria a mesma pessoa usar de uma linguagem disparatada, nem exprimir alternativamente as coisas mais contraditórias. Esta falta de unidade nas manifestações obtidas pelo mesmo médium prova a diversidade das fontes. Ora, desde que não as podemos encontrar todas nele, forçoso é que as procuremos fora dele.
(17) Segundo outra opinião, o médium é a única fonte produtora de todas as manifestações; mas, em vez de extraí-las de si mesmo, como o pretendem os partidários da teoria sonambúlica, ele as toma ao meio ambiente. O médium será então uma espécie de espelho a refletir todas as idéias, todos os pensamentos e todos os conhecimentos das pessoas que o cercam; nada diria que não fosse conhecido, pelo menos, de algumas destas. Não é lícito negar-se, e isso constitui mesmo um princípio da doutrina, a influência que os assistentes exercem sobre a natureza das manifestações. Esta influência, no entanto, difere muito da que supõem existir, e, dela à que faria do médium um eco dos pensamentos daqueles que o rodeiam, vai grande distância, porquanto milhares de fatos demonstram o contrário. Há, pois, nessa maneira de pensar, grave erro, que uma vez mais prova o perigo das conclusões prematuras. Sendo-lhes impossível negar a realidade de um fenômeno que a ciência vulgar não pode explicar e não querendo admitir a presença dos Espíritos, os que assim opinam o explicam a seu modo. Seria especiosa a teoria que sustentam, se pudesse abranger todos os fatos. Tal, entretanto, não se dá. Quando se lhes demonstra, até à evidência, que certas comunicações do médium são completamente estranhas aos pensamentos, aos conhecimentos, às opiniões mesmo de todos os assistentes, que essas comunicações freqüentemente são espontâneas e contradizem todas as idéias preconcebidas, ah! eles não se embaraçam com tão pouca coisa. Respondem que a irradiação vai muito além do círculo imediato que nos envolve; o médium é o reflexo de toda a Humanidade, de tal sorte que, se as inspirações não lhe vêm dos que se acham a seu lado, ele as vai beber fora, na cidade, no país, em todo o globo e até nas outras esferas.
Não me parece que em semelhante teoria se encontre explicação mais simples e mais provável que a do Espiritismo, visto que ela se baseia numa causa bem mais maravilhosa.
A idéia de que seres que povoam os espaços e que, em contacto conosco, nos comunicam seus pensamentos, nada tem que choque mais a razão do que a suposição dessa irradiação universal, vindo, de todos os pontos do Universo, concentrar-se no cérebro de um indivíduo. Ainda uma vez, e este é ponto capital sobre que nunca insistiremos bastante: a teoria sonambúlica e a que se poderia chamar refletiva foram imaginadas por alguns homens; são opiniões individuais, criadas para explicar um fato, ao passo que a Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias inteligências que se manifestam, quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia. Ora, perguntamos, onde foram os médiuns beber uma doutrina que não passava pelo pensa- mento de ninguém na Terra? Perguntamos ainda mais: por que estranha coincidência milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo terráqueo, e que jamais se viram, acordaram em dizer a mesma coisa? Se o primeiro médium que apareceu na França sofreu a influência de opiniões já aceitas na América, por que singularidade foi ele buscá-las a 2.000 léguas além-mar e no seio de um povo tão diferente pelos costumes e pela linguagem, em vez de as tomar ao seu derredor?
(18) Também ainda há outra circunstância em que não se tem atentado muito. As primeiras manifestações, na França, como na América, não se verificaram por meio da escrita nem da palavra, e, sim, por pancadas concordantes com as letras do alfabeto e formando palavras e frases. Foi por esse meio que as inteligências, autoras das manifestações, se declararam Espíritos. Ora, dado se pudesse supor a intervenção do pensamento dos médiuns nas comunicações verbais ou escritas, outro tanto não seria lícito fazer-se com relação às pancadas, cuja significação não podia ser conhecida de antemão.
Poderíamos citar inúmeros fatos que demonstram, na inteligência que se manifesta, uma individualidade evidente e uma absoluta independência de vontade. Recomendamos, portanto, aos dissidentes, observação mais cuidadosa e, se quiserem estudar bem, sem prevenções, e não formular conclusões antes de terem visto tudo, reconhecerão a impotência de sua teoria para tudo explicar.
Limitar-nos-emos a propor as questões seguintes: Por que é que a inteligência que se manifesta, qualquer que ela seja, recusa responder a certas perguntas sobre assuntos perfeitamente conhecidos, como, por exemplo, sobre o nome ou a idade do interlocutor, sobre o que ele tem na mão, o que fez na véspera, o que pensa fazer no dia seguinte, etc.?
Se o médium fosse o espelho do pensamento dos assistentes, nada lhe seria mais fácil do que responder.
A esse argumento retrucam os adversários, perguntando, a seu turno, por que os Espíritos, que devem saber tudo, não podem dizer coisa tão simples, de acordo com o axioma: Quem pode o mais pode o menos, e daí concluem que não são os Espíritos os que respondem. Se um ignorante ou um zombador, apresentando-se a uma douta assembléia, perguntasse, por exemplo, por que é dia às doze horas, acreditará alguém que ela se daria o incômodo de responder seriamente e fora lógico que, do seu silêncio ou das zombarias com que pagasse ao interrogante, se concluísse serem tolos os seus membros? Ora, exatamente porque os Espíritos são superiores, é que não respondem a questões ociosas ou ridículas e não consentem em ir para a berlinda; é por isso que se calam ou declaram que só se ocupam com coisas sérias.
(19) Perguntaremos, finalmente, por que é que os Espíritos vêm e vão-se, muitas vezes, em dado momento e, passado este, não há pedidos, nem súplicas que os façam voltar? Se o médium obrasse unicamente por impulsão mental dos assistentes, é claro que, em tal circunstância, o concurso de todas as vontades reunidas haveria de estimular-lhe a clarividência. Desde, portanto, que não cede ao desejo da assembléia, corroborado pela própria vontade dele, é que o médium obedece a uma influência que lhe é estranha e aos que o cercam, influência que, por esse simples fato, testifica da sua independência e da sua individualidade.
Livro dos Espíritos, Prolegômenos
(20) Fenômenos alheios às leis da ciência humana se dão por toda parte, revelando na causa que os produz a ação de uma vontade livre e inteligente.
A razão diz que um efeito inteligente há de ter como causa uma força inteligente e os fatos hão provado que essa força é capaz de entrar em comunicação com os homens por meio de sinais materiais.
Interrogada acerca da sua natureza, essa força declarou pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram do invólucro corporal do homem. Assim é que foi revelada a Doutrina dos Espíritos.
(21) Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.
(22) Este livro é o repositório de seus ensinos. Foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem obra daquele que recebeu a missão de os publicar.
Em o número dos Espíritos que concorreram para a execução desta obra, muitos se contam que viveram, em épocas diversas, na Terra, onde pregaram e praticaram a virtude e a sabedoria. Outros, pelos seus nomes, não pertencem a nenhuma personagem, cuja lembrança a História guarde, mas cuja elevação é atestada pela pureza de seus ensinamentos e pela união em que se acham com os que usam de nomes venerados.
Eis em que termos nos deram, por escrito e por muitos médiuns, a missão de escrever este livro:


